O carro deixou-a perto da morada que indicou. Ajeitou com as mãos o vestido, que subira ao sair. Respirou fundo e avançou, orgulhosa de si. A noite estava quente mas soprava uma brisa leve, vinda do rio. No passeio inverso um casal novo de turistas devia regressar do jantar. Sentiu nela um olhar rápido, misto de curiosidade e inveja. Sorriu e parou à porta do prédio. Marcou o código de entrada que tinha decorado e ouviu o trinco libertar a porta pesada. Subiu dois andares. O som dos saltos pretos ecoou pelas escadas de madeira, enquanto cobria a cara com a mascarilha. Percebeu que estava nervosa.
Horas antes saíra do banho prolongado e hesitou entre vestir o body preto ou o conjunto de renda vermelho. O vestido só podia ser aquele. Passou-lhe pela cabeça ir nua e de gabardine fechada. Porque não? Afinal o desafio era superar-se e fazer o que muitas não ousam. Ganhou o vestido. Gosta do que aquele decote e abertura nas costa mostram do seu corpo.
Maquilhou-se com calma e precisão. Penteou-se sem pressa. E levou consigo o conjunto de renda que não vestiu. Trocaria mais tarde, na sessão.
Quem lhe abriu a porta foi uma mulher, a assistente. E sem saber porquê isso tranquilizou-a. Ouviu o fotógrafo a aproximar-se e dar-lhe as boas-vindas. Pousou a mala na zona de vestir e disse para si: Eyes Wide Shut. A sua sessão tinha começado! Os próximos 45 minutos eram seus.
Dias depois, entre duas reuniões no escritório recebeu uma mensagem:
“as suas fotografias estão prontas, pode vê-las aqui”. A tarde arrastou-se, horas sem fim, até finalmente conseguir abrir o mail e espreitar. Reconheceu nestas imagens a mulher sensual que é e que poucos conhecem…